Do Choro ao Diálogo: A Construção das Competências Sociais e Emocionais
São cruciais em todas as fases da vida, desde a infância até a idade adulta. E desempenham um papel fundamental no desenvolvimento saudável, nos relacionamentos interpessoais e no bem-estar. Estas competências envolvem a capacidade de identificar e gerir as nossas emoções e as dos outros, estabelecer e manter relacionamentos saudáveis, tomar decisões responsáveis e resolver conflitos de forma construtiva.
As crianças começam a adquirir estas competências logo na primeira fase do desenvolvimento quando ainda são bebés e à medida que crescem vão consolidando essas capacidades e conquistando outras. Atenção, nem todas se desenvolvem ao mesmo ritmo. Não se preocupe se a criança não atingir de imediato a evolução que dela se espera no âmbito do quadro de conquistas expectáveis para cada fase do desenvolvimento.
Na infância, as competências sociais e emocionais começam a desenvolver-se através das interações com a família e outros cuidadores. As crianças aprendem a identificar e expressar emoções básicas, como alegria, tristeza, raiva e medo. E a reconhecer essas emoções nos outros. Começam, igualmente, por desenvolver competências de comunicação, como ouvir, falar e entender as necessidades dos outros. Através das brincadeiras, aprendem a partilhar, a colaborar e a resolver problemas.
Na adolescência, todas essas competências continuam a ser desenvolvidas à medida que os jovens enfrentam novos desafios relacionados com a sua personalidade (que está a formar-se) e o grau de autonomia. Aprendem a lidar com pressões sociais, desenvolvem empatia e compreensão pelos outros e começam a formar relacionamentos mais complexos. Em simultâneo, aprofundam a autoconsciência emocional e adquirem outras ferramentas para regular as suas emoções com maior eficácia, controlando melhor, assim, as situações de stress e ansiedade.
Na idade adulta, as competências sociais e emocionais afiguram-se essenciais para estabelecer e manter relacionamentos íntimos, profissionais e sociais saudáveis. Nesta fase, o indivíduo já demonstra capacidade para resolver conflitos de forma construtiva, a comunicar de forma eficaz e a colaborar - ferramentas decisivas para o sucesso pessoal e profissional. Já consegue também colocar-se no lugar do outro para estabelecer melhores relações, sólidas, colaborantes e de compreensão mútua. Ao longo da idade adulta, essas competências, e outras, continuam a desenvolver-se com base nas experiências pessoais de vida, na aprendizagem contínua do dia-a-dia e nas interações interpessoais.
Vejamos, o que se pode esperar em cada uma das diferentes fases do desenvolvimento, da infância à vida adulta:
Bebés
Até aos dois meses:
Choram para ver as suas necessidades satisfeitas;
Ocasionalmente, acalmam-se chuchando nos dedos;
Começam a sorrir e a olhar fixamente para quem têm à frente.
Até aos quatro meses:
Choram de diferentes formas para mostrar fome, dor ou cansaço;
Sorriem em resposta ao sorriso do cuidador;
Brincam com as mãos, abanando-as.
Até aos seis meses:
Começam a ter consciência e capacidade para identificar os familiares e a distingui-los de pessoas estranhas;
São capazes de reagir às emoções alheias, chorando, sorrindo ou rindo;
Aprendem a gostar de se ver ao espelho.
Até aos 9 meses:
Mostram ansiedade quando se aproximam de pessoas que não conhece;
Podem chorar quando não têm pessoas da família por perto;
Começam a preferir alguns brinquedos em detrimento de outros.
Até aos 12 meses:
Têm preferência por pessoas conhecidas;
Demonstram maior capacidade de interação com diferentes objetos como brinquedos ou livros, produzindo diferentes ruídos para chamar a atenção.
Dos 18 meses aos 2 anos:
Tendem a ter acessos de raiva e os mesmos tornam-se mais desafiantes à medida que tentam comunicar e ser independentes;
Começam a brincar ao faz-de-conta, imitando o que os adultos e as outras crianças estão a fazer;
Já se interessam por ter outras crianças por perto, mas é mais provável que brinquem ao lado delas do que com elas.
Crianças em idade pré-escolar
Dos 3 aos 4 anos:
Mostram e verbalizam mais emoções, interessam-se por jogos de faz-de-conta, mas podem confundir a realidade com a ficção;
São espontaneamente amáveis e carinhosas;
Começam a brincar com outras crianças e a separar-se mais facilmente dos seus cuidadores;
Podem ainda fazer birras devido a mudanças nas rotinas ou por não conseguirem o que querem.
Crianças em idade escolar
Dos 5 aos 6 anos:
Gostam de brincar com outras crianças e são mais conversadoras e independentes;
Testam os limites, mas ainda estão ansiosas por agradar e ajudar;
Começam a compreender o que significa sentir-se envergonhado.
Dos 7 aos 8 anos:
Estão mais conscientes das perceções dos outros;
Podem queixar-se das amizades e das reações das outras crianças;
Querem comportar-se bem, mas não estão tão atentas às instruções;
Tentam exprimir os sentimentos com palavras, mas podem recorrer à agressão quando estão irritadas.
Dos 9 aos 10 anos:
Partilham segredos e brincadeiras com os amigos;
Começam a desenvolver a sua própria personalidade, afastando-se das atividades e conversas familiares;
São afetuosas, tontas e curiosas, mas podem ser egoístas, rudes e argumentativas.
Alunos do ensino básico e secundários:
Dos 11 aos 15 anos:
Começam a pensar de forma mais lógica;
São introspetivas, mal-humoradas e precisam de privacidade;Valorizam cada vez mais a opinião dos amigos e dos outros;
Podem testar novas ideias, estilos de vestuário e maneirismos enquanto tentam perceber onde/como se enquadram.
Dos 16 aos 18 anos:
Esforçam-se por ser independente e podem começar a distanciar-se emocionalmente dos prestadores de cuidados;
Começam a tentar descobrir os seus pontos fortes e fracos, parecendo, por vezes, egocêntricas, impulsivas ou mal-humoradas;
Mostram-se orgulhosas dos êxitos alcançados;
Passam muito tempo com os amigos e podem estar interessadas em namorar.
Sempre que a criança chegar a cada diferente fase do seu desenvolvimento sem adquirir as competências expectáveis, não fique preocupado - pode não haver razões para isso. Mas, esteja atenta. Acompanhe, sempre, de perto, todo o processo de desenvolvimento e, se sentir que precisa de ajuda, partilhe as suas inquietações. A família, os professores e os profissionais de saúde podem desempenhar um papel fundamental na resposta de que a criança, eventualmente, pode estar a precisar para desenvolver as suas competências sociais e emocionais.
Artigo escrito e publicado pelo SEI - Centro de Desenvolvimento e Aprendizagem