Telescola: Os desafios do ensino à distância

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Telescola - os desafios do ensino à distância:

Madalena é uma gota no oceano desta pandemia em que estamos mergulhados. Aos 14 anos teve de se reinventar. Tenta, aos poucos, adaptar-se a uma nova realidade comum a 2 milhões de crianças em Portugal. As Nações Unidas fizeram as contas: três em cada quatro alunos a nível mundial estão em casa sem aulas. Estamos a falar de, pelo menos, 1,4 mil milhões de estudantes. 

Tempos de isolamento social, imposto por uma das doenças mais devastadoras da história da humanidade. Em simultâneo, uma boa oportunidade para aprender coisas novas e as mais recentes metodologias de trabalho à distância. A escola não pode parar. Nem a formação dos alunos. Madalena sabe disso. 

E se antes passava o dia, das 8 às 17 horas, em aulas presenciais e sucessivas no colégio privado que frequenta em Lisboa, entretanto encerrado, agora está confinada ao isolamento que se impõe. O Estado de Emergência decretado pelo governo assim obriga. Mas, ao contrário da economia do país onde vive, a adolescente recusa-se a estagnar. Já percebeu que ficar em casa não significa estar de férias. E a aprendizagem pode e deve continuar, mesmo que seja no conforto do sofá lá de casa. 

O ensino digital, ou seja, à distância é por estes dias a opção mais viável. Uma ferramenta essencial que permite às escolas e aos alunos minimizarem o impacto deste inimigo sem rosto a que chamam coronavírus. Desde que esta "guerra" como descreveu o próprio primeiro ministro irrompeu pelo país, Madalena aprendeu novas rotinas e formas alternativas de construir conhecimento. 

É em frente ao computador, online, com uma janela virada para professores e colegas de turma que passa várias horas do dia entre aulas e atividades escolares. Ninguém sabe o que vai ser o dia de amanhã em relação às avaliações deste ano letivo e como irá iniciar-se o próximo, mas Madalena e a sua escola não aceitam paralisar.  

As instituições de ensino procuram -e bem- cumprir as metas curriculares a que se comprometeram através, agora, exclusivamente das novas tecnologias, às quais, infelizmente, nem todos os alunos têm acesso. O que fazer perante esses casos? A Constituição da República Portuguesa é muito clara, o acesso ao ensino escolar é universal e gratuito. Ou seja, ninguém pode ser discriminado em função da sua situação económica e social. 

Madalena pertence ao grupo das crianças privilegiadas. E as outras, aquelas cujos pais têm rendimentos mais baixos, ou que estão desempregados e não se permitem ter computador, impressora e acesso à internet? 

O princípio básico da escola pública não pode ficar ferido neste enredo em que se transformou este ano letivo. Nenhum aluno proveniente de meios desfavorecidos ou das classes mais baixas pode ser deixado para trás. Por isso, o governo prepara uma solução mais abrangente, válida para todos os níveis educativos, assente na Televisão Digital Terrestre (TDT) para assegurar as aulas no período em que as escolas estão encerradas por causa da pandemia.

Entretanto, a atual aprendizagem de Madalena depressa passou a acompanhar o mesmo ritmo das aulas presenciais. Talvez a quantidade dos trabalhos exigidos seja agora um pouco maior, mas ela não se queixa. Até o professor de educação física tem dado aulas online e enviado vídeos com exercícios de forma a sensibilizar os alunos para a importância da atividade física, mesmo que seja em casa e do papel fundamental que pode ter em termos psicológicos no bem-estar dos estudantes, agora privados da sua vida social. 

Madalena mantém a rotina de acordar cedo. Levanta-se ao som do despertador, toma o pequeno almoço, mas em vez de ir para o colégio, liga o computador e permanece em casa. As aulas arrancam às 9 horas. O apoio da família tem sido essencial para que o estudo prossiga. Os 14 anos de Madalena já lhe permitem alguma autonomia, mas há crianças mais pequenas que dependem do apoio total dos pais durante as aulas por videoconferência, sem o qual a aprendizagem não é possível. 

Coloca-se, por isso, um problema: nem todas as famílias têm disponibilidade para esse acompanhamento devido a compromissos profissionais. 

Disciplina e organização sempre foram fundamentais na vida escolar de Madalena e agora ainda mais neste período de confinamento na medida em que as aulas à distância exigem maior capacidade de concentração e de trabalho individual. É muito importante que as famílias coloquem à disposição dos estudantes um espaço apropriado para que executem com sucesso todas as tarefas. Uma secretária (arrumada) com boa iluminação inserida num ambiente de baixo ruído ajuda muito, tal como uma boa rede WiFi de maneira a evitar perder o sinal da internet durante as aulas. 

Tal como se habitou a escovar os dentes todos os dias logo de manhã quando acorda, Madalena já não consegue deixar de abrir a plataforma de ensino depois do pequeno almoço. Tem sempre aulas e novos trabalhos de casa para executar. Ela já percebeu que, com empenho, consegue manter o mesmo nível de aproveitamento escolar por videoconferência, através da chamada telescola. 

É certo que Madalena não tem dificuldades de aprendizagem, mas há muitas crianças que sofrem, por exemplo, de dislexia e que por isso revelam problemas na descodificação, fluência leitora e escrita. São alunos com menos autonomia e que costumam levar mais tempo a completar os exercícios. Nestes casos a adaptação ao ensino online pode ser mais demorada, mas é igualmente possível. 

É essencial que, apesar de estarem em casa, mantenham por videoconferência contacto regular com técnicos especializados nesta perturbação específica de aprendizagem, cujo o apoio pedagógico é determinante também neste período de distanciamento social, sob pena de se agravarem as suas dificuldades. 

Artigo publicado pelo Sei – Centro de Desenvolvimento e Aprendizagem

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