Como falar com o seu filho sobre diferenças e dificuldades de aprendizagem?

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Mãe, porque é que eu demoro mais tempo a aprender do que os meus colegas?

Falar abertamente sobre as diferenças demonstra que não há nada de que a criança se deva envergonhar. A primeira conversa pode ser a mais difícil, por isso procure simplificar a linguagem, explicando-lhe que todos somos diferentes de alguma forma. Quando a criança aprende e pensa de forma diferente, é importante que fale sem reservas sobre essas diferenças. Comunicar, ajuda a que entenda que não há motivos para se sentir retraída. E também demonstra que há um adulto disponível para a ouvir e ajudar. Descubra o que dizer e quando dizer nos momentos mais adequados.

 

Quando falar com a criança

Não o faça de uma só vez. O processo é longo e deve ser adequado às diferentes etapas e idades da criança. Precisa de ser amadurecido à medida que ela vai crescendo. Crie uma ponte de diálogo que ajude a passar a mensagem e a reforçar a autoestima da criança. Lembre-se, a primeira conversa é só o início. Assim que a criança começar a entender melhor e conquistar maior autonomia, as conversas poderão ser mais aprofundadas.

O diálogo aberto ajuda a criar confiança, de forma a que aprenda a resolver problemas e a falar por si própria. Tente manter as coisas simples desde o início. Evite utilizar termos clínicos. Caso seja necessário, procure a ajuda de um especialista. 

 

O que dizer à criança 

As crianças em todas as idades costumam ser bastante observadoras, mesmo as mais pequenas conseguem identificar as tarefas em que sentem maiores dificuldades em relação a outras crianças. Também sabem reconhecer as suas maiores aptidões e aquelas tarefas em que sentem maior facilidade em executar, comparando com outras crianças da mesma idade.  Este é o melhor ponto de partida para a conversa, dizendo que, de alguma forma, todos somos diferentes.

Algumas coisas que pode dizer

"Pensas de forma diferente"- A criança que aprende e pensa de forma diferente pode preocupar-se em ser vista como "ignorante". Não fuja a essa discussão. Oiça-a com atenção. Mostre-lhe que não há motivos para se sentir assim. Fale abertamente sobre o tema e transmita-lhe que o facto de pensar de maneira diferente de outras pessoas não a diminui, nem significa que é menos inteligente. Não. Apenas dispõe de um cérebro que funciona de forma diferente. Tente encontrar pessoas, por exemplo, cientistas ou atores que relatam que também aprenderam e pensam de forma diferente. 

"Os teus desafios não te definem"- Quando a criança está em conflito interior é muito fácil que faça das dificuldades o seu foco. A criança precisa de saber que o que gosta de fazer e aquilo em que é bem-sucedida, diz mais sobre ela do que as suas dificuldades. Enalteça os pontos fortes da criança e tente ser específico, sem cair no exagero, as crianças facilmente percebem quando os elogios não são sinceros. Partilhe histórias de pessoas próximas que aprendem e pensam de forma diferente e que a criança admira, por exemplo um amigo ou familiar. 

 

"Todos temos pontos fortes e fragilidades"- Lembre à criança que todos temos dificuldades e somos bons em diferentes coisas. Dê exemplos concretos. Fale de si. Diga-lhe quais são as suas principais dificuldades, assim como as tarefas onde se sente mais à vontade. Transmita à criança que todos precisamos de ajuda extra com alguma coisa. Só assim podemos evoluir, conseguindo derrubar as barreiras que nos parecem mais difíceis. Atenção: nem todas as diferenças são fáceis de identificar. Algumas são mais complexas do que outras e podem até estar presentes - sem que nos apercebamos ao início - em pessoas próximas, por exemplo, um colega de escola. 

 

"Não há problema em falar comigo sobre isso"- É importante para a criança sentir que as suas perguntas e preocupações são ouvidas. Isto reforça a relação de cumplicidade e empatia. O diálogo regular leva a conversas mais profundas sobre os obstáculos a transpor e ajuda a encontrar soluções. A criança tenderá, mais facilmente, a confiar em si. Frases como "ainda bem que fazes essa pergunta" ou "sei que te sentes desconfortável a falar sobre isto" ajudam a que se sinta com mais confiança para falar sobre os temas mais sensíveis. 

 

"Uma deficiência é uma diferença"- Evite o preconceito, falando abertamente sobre o tema. Se a criança está curiosa sobre a palavra "deficiência" não fuja dessa conversa. Explique-lhe que uma deficiência é uma diferença que torna mais difícil para alguém executar determinada tarefa, em relação a outra pessoa. Com crianças mais novas utilize exemplos óbvios: uma pessoa que use cadeira de rodas tem uma deficiência que a impede de andar ou ficar de pé tão facilmente como outras pessoas. Não significa, todavia, que tenha dificuldades em tudo na sua vida. Não. Faça entender que essa limitação não a impede de realizar, com sucesso, outras tarefas também importantes, como ler e escrever. E que essa pessoa quando estiver a fazer algo diferente como jogar consola ou a realizar um trabalho de casa de matemática, não pensará na cadeira de rodas. 

 

"Sei que te estás a esforçar muito"- Algumas crianças que aprendem e pensam de forma diferente, preocupam-se que outras pessoas as vejam como preguiçosas. A criança pode até esforçar-se arduamente e mesmo assim não conseguir acabar com sucesso determinadas tarefas, por exemplo os trabalhos de casa, ou a escrever um ditado sem erros ortográficos. Demonstre à criança que repara no quanto se esforça. Transmita-lhe confiança de que, aos poucos, as coisas vão melhorar. Pode ser realmente difícil falar com a criança sobre temas sensíveis, mas é um passo fundamental. Ajudará a que entenda que não deve ter vergonha por pensar de forma diferente. 

 Artigo escrito e publicado pelo Sei – Centro de Desenvolvimento e Aprendizagem

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